O Jornalista Heverton Lacerda, vice-presidente da Agapan, publicou artigo no Correio do Povo de 2/11/2017 em que critica a escolha pela implantação de uma usina termoelétrica a base de carvão em Rio Grande, sul do Estado do RS. A seguir, a íntegra:
Cinquenta tons de cinzas
A famosa estória de E. L. James, que está longe de ter unanimidade quanto à qualidade da narrativa, parece cair como luvas para uma analogia diante da proeza quase masoquista dos cinquenta deputados do parlamento gaúcho que aprovaram, no dia 24 de outubro, o projeto que institui um polo carboquímico no Pampa. Nem mesmo as expressões agradáveis “sustentável”, “ambientalmente apropriada” e “respeito ao ambiente” inseridas no texto do Projeto de Lei 191/2017 conseguem esconder a preocupação sobre o que fazer com as cinzas resultantes dos processos aplicados ao carvão mineral, que contém elevados teores de carbono em sua composição química. Tampouco, tais expressões foram suficientes para escamotear a inevitável constatação de que há riscos de impactos sociais e ambientais no processo de produção de amônia, nafta e metanol.
Não há mais dúvida de que algumas ações humanas estão acelerando a velocidade das alterações climáticas. O calor escaldante do verão e os cada vez mais frequentes tornados e vendavais são indícios claros dessas mudanças.
Mesmo vivenciando tudo isso nos dias atuais, não foram capazes os nossos 50 deputados de interromper esse projeto. Quais interesses reais se escondem por trás dessa postura coletiva quase unânime na Casa do Povo? Poderiam empresários chineses explicar isso? Aqui ninguém deu explicação alguma até o momento.
Com tantas opções tecnológicas já disponíveis para gerar energia de forma limpa, sem liberar resíduos ou poluentes, a partir dos movimento das ondas, da captação da radiação solar, da força dos ventos, por exemplo, é inaceitável que ainda sejam apresentados e aprovados projetos desse tipo, mesmo com a desculpa de gerar energia de base. Têm sido produzidos equipamentos com maior eficiência energética, ou seja, com consumo bastante reduzido em relação ao passado próximo. Incentivaram os cidadãos a trocar as lâmpadas de filamento por lâmpadas econômicas. As de LED, já popularizadas, consomem um décimo ou menos do que suas equivalentes em luminosidade. Aparelhos de TV, geladeiras, entre outros, também são mais eficientes. Quando a população de dispôs a colaborar, estava apostando que seus governantes iriam seguir o mesmo caminho. Mas, infelizmente, não é isso o que se percebe. Ao que parece, nosso governo e nossos 50 deputados perderam o passo do tempo e, anacronicamente, optam por nos impor um futuro poluído e cinza.